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terça-feira, 15 de junho de 2010

Olhando pelo avesso e através da VIRADA CULTURAL DO INTERIOR PAULISTA

Por Ludmila Seriani Fontoura - equipe Hei.PossoFalar?
Vinte e quatro horas – GRÁTIS - de música, dança, circo, teatro, exposição e cultura popular. Um final de semana atípico em algumas cidades do interior, como nos municípios de Mogi Guaçu, Jundiaí, Bauru, Assis, Ribeirão Preto e Sorocaba, por exemplo. Isso porque, nos dias 22 e 23 de maio, 30 cidades do interior e litoral paulista foram palco da Virada Cultural, evento inspirado na festa da capital paulista e que, de acordo com a Secretaria do Estado da Cultura de São Paulo, neste ano atraiu 1,3 milhões de pessoas em todo o Estado. O investimento do governo foi de R$ 6,5 milhões.


Colocada nas ruas pela primeira vez na administração, do então governador do Estado de São Paulo, José Serra, a Virada Cultural Paulista nasceu em 2007, sendo realizada em dez cidades do interior e levando para o gosto popular 381 atrações. Após, em 2008, foram 19 cidades participantes e 476 eventos e, seguindo a crescente ordem dos números, em 2009 a virada aconteceu em 20 cidades com 563 pontos de disseminação cultural.


De acordo com o coordenador da Virada Cultural, André Sturm, a escolha das cidades palco da Virada Cultural se dá, primeiramente, pela localização geográfica do município. “O intuito é ter a virada em todos as regiões do Estado. Mas outros pontos também são analisados, como a população, o interesse do município e a tradição da cidade em promover eventos culturais” – afirma.


Para o próximo ano, ainda não há definição sobre as cidades participantes. Sturm diz ainda ser cedo para falar em aumento no número de cidades que receberão a festa em 2011. Antes, Secretaria do Estado da Cultura de São Paulo ainda realizará uma avaliação sobre a festa deste ano, para então iniciar o planejamento da próxima.


De cabeça na Virada do Interior
Para entender como a virada aconteceu mergulhamos de cabeça num território, digamos, longe... bem longe. Em Mogi Guaçu, uma das 30 cidades anfitriãs do evento.

É a segunda vez que o município recebe a Virada Cultural Paulista e, segundo o secretário de cultura do município Edenilson José Faboci, cerca de 40 mil pessoas participaram do evento. Neste ano, como a programação estava mais “rechonchuda”, se comparada a 2009, além do centro da cidade, outros locais também foram ocupados pelas atrações que incluíram artistas como Arrigo Barnabé, Arnaldo Antunes, Sandália de Prata, Dj Evelyn, a grafiteira Pankill, exposição sobre história em quadrinhos, artes circenses, teatros e os artista da própria cidade, o cantor Pedro Henrique junto à banda Lumiar, a banda marcial dos Ypês e a DivaDrive, que foram indicados pelo município e, posteriormente, contratados pelo governo estadual.

Para Ully Costa, vocalista da Sandália de Prata, banda samba-rock da capital paulista, a Virada Cultural é importante para os artistas, para a música brasileira, para a galera da culinária, para os grafiteiros e principalmente para o público. Para ela, a Virada Cultural é arte pura.

Quanta gente boa que a mídia comum não mostra. Quanta musica de qualidade que fica escondida atrás dos holofotes da grande imprensa. De acordo com Faboci, após a criação da Secretaria de Cultura no município, há dois anos, Mogi Guaçu está trabalhando para descobrir, redescobrir e incentivar os talentos que estão espalhados pelos diversos pontos da cidade. “Para nós a cultura não pode ser vista como algo supérfluo, por isso trabalhamos durante todo o ano, por meio de um calendário de ações, na descentralização da cultura, proporcionando espaço para todos, de maneira a impulsionar novas referências para a população” – comenta.

Além dos artistas, por incentivo da Secretaria do Estado da Cultura de São Paulo e o apoio de órgãos municipais, Mogi Guaçu tratou também de assuntos pertinentes aos cidadãos, disponibilizando pontos de informação sobre a Lei Maria da Penha, educação no transito e previdência privada.

Dois dias de festa, dois dias de mistura cultural. Desde adolescentes de cabelo e cadarços coloridos a tiozões de cabelos compridos e colete nas costas, na virada todo mundo dançou, cantou, sorriu e aproveitou às 24h – GRATIS – de cultura.


E como vai a cultura? Bem, obrigada?

Não. Meia boca, de nada.
Analisando sob a ótica da escola de Frankfurt, que tem como base a Teoria da Indústria Cultural, o que se pode afirmar, com toda certeza, é que a cultura, no que diz respeito a pensamentos, obras de arte, espetáculos, cinema, leitura, etc., infelizmente, tornou-se um produto caro que pode ser consumido por poucos.

Claro, quem é que, em tempos de cachorro magro, consegue pagar R$40 por um convite individual para assistir a uma peça de teatro de qualidade? Ou ainda, R$15, 16, 19 por uma sessão de cinema? Isso é artigo de luxo para a massa, que sobrevive, muitas vezes com salários dignos, porém míseros.

De acordo com Fabiano Ormaneze, jornalista e professor da área de Estética e Cultura da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), a centralização do consumo cultural é um problema que poderia ser evitado se houvesse uma política pública de acesso aos bens culturais, uma valorização das manifestações não elitizadas, a democratização dos meios de comunicação e, claro, a melhoria da educação – salienta. Neste sentido, mesmo passando por ações que visam proporcionar novas referências, como a Virada Cultural Paulista, importante estímulo para os cidadãos darem um passo adiante, a cultura precisa ainda ser democratizada.

Para o jornalista e professor, a Virada Cultural é válida como um incentivo e não como uma medida que resolve o problema da exclusão cultural. “Não adianta proporcionar 01 dia de atividades gratuitas, mas esquecer dos outros 364 dias do ano. Não dá para disponibilizar cultura de maneira limitada” – salienta.

É um jogo de dominó num país que não analisa. Assim, o anormal passa a ser normal. Ora bolas, falar sobre cultura envolve, primeiramente, a discussão sobre a educação do Brasil.

Vale Cultura: progresso?
O projeto de lei 5798/09, que se refere ao Programa de Cultura do Trabalhador e que contempla o Vale Cultura, ainda aguarda para ser apreciado na Câmara dos Deputados, em Brasília.
Isso por que, após ser votado e aprovado em plenário no dia 14 de outubro de 2009, o mesmo seguiu para o Senado Federal, que apresentou emendas à câmara, em 22 de dezembro.

Até o momento, as emendas aguardam para serem votadas. Porém, segundo o sítio Agência Câmara de Notícias (http://www2.camara.gov.br/agencia/noticias/NAO-INFORMADO/4269-GOVERNO-QUER-VOTAR-24-PROJETOS-PRIORITARIOS.html), em março deste ano foi apresentada uma lista com 24 projetos que tem prioridade de votação até as eleições. Entre eles, não se encontra o Programa de Cultura do Trabalhador. De acordo com a central de informações da Câmara dos Deputados, a ordem de prioridade pode ser alterada a qualquer momento.

Mas, será que com a aprovação do Vale-Cultura as pessoas terão mais oportunidade para consumir cultura de qualidade?

Um ponto de atenção, e que merece destaque, é o entendimento que se tem sobre cultura no Brasil. De nada adianta proporcionar ao trabalhador a oportunidade de freqüentar um teatro, um cinema, comprar um livro ou mesmo um disco, se o Brasil continuar apoiando a Indústria Cultural, que tem o poder para direcionar o consumo e a capacidade de direcionar o olhar das pessoas apenas para aquilo que ela mesma colocou na mídia e considera ser cultura.

Se isso acontecer, andaremos em círculo e, novamente, daremos espaço apenas para as manifestações elitizadas: ao artista e não a obra, ao consumo e não ao significado, ao resultado e não a análise. Desta forma, consumiremos somente aquilo que é produzido em série para gerar renda aos grandes detentores da mídia, que visam o lucro a qualquer preço, mas que não se preocupam em disseminar, democratizar e gerar conhecimento.

É preciso incentivar a busca por novas referências, para que as pessoas formem um novo repertório, capaz de analisar e compreender o contexto em que estão inseridas, e não apenas consumam de forma desenfreada. O necessário é entender que a Indústria Cultural estuda o público que quer impactar para então direcionar suas ações. É um mercado inteligente, que pode engolir cada um de nós – com suas frases feitas, com suas noites perfeitas (trecho extraído da música Frases Perfeitas, do compositor e cantor Cazuza).

2 comentários:

  1. De fato a cultura não é vista como deveria ser; proporcionar 24hrs de teatro, de cultura musical não incentiva a nenhuma classe social, principalmente as mais carentes...
    Ah cultura com toda a certeza é um ótimo alicerce para a educação, onde falta muita areia para encher um caminhão.
    A bagagem que a cultura trás é essencial não só para o lazer, mas também para o relacionamento entre tribos que expressam sentimentos diferentes, mas também para aprender e ensinar que uma musica uma obra de arte com uma simples moldura ou até um teatro de rua tem grandeza e o poder de mudar idéias, preconceituosas e anti socialistas, e dar um pouco mais de cultura e educação para pessoas pouco favorecidas, e as mais favorecidas também.
    E com certeza é preciso proporcionar a essas novas vertentes a oportunidade de expressar novas idéias de cultura a nossa sociedade, e não é só com 24hrs de cultura por ano que isso irá mudar!

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  2. Gostaria de aproveitar o espaço para postar um texto muito bom que ouvi no final de uma musica da Ana Carolina e Seu Jorge em um show deles; e já que o texto fala justamente sobre a cultura ai vai...

    "Bom, e aí, resolvi fazer umas coisas que não tinha conseguido fazer antes e queria... Fiquei com vontade de encontrar umas pessoas que eu não tinha encontrado ainda. O primeiro nome forte que me veio foi Tom Zé, esse gênio maravilhoso, e, quando eu encontrei com ele, eu encontrei carinho, abrigo e uma pessoa mais incrível ainda que teve uma grande sacada nessa nossa primeira parceria chamada Unimultiplicidade, onde cada homem é sozinho a casa da humanidade. Valeu Tom! E antes de fazer essa canção, eu queria ler um textinho aqui da *Elisa Lucinda, chama-se Só de sacanagem.
    Meu coração está aos pulos! Quantas vezes minha esperança será posta a prova? Por quantas provas terá ela que passar?
    Tudo isso que está aí no ar: malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro. Do meu dinheiro, do nosso dinheiro que reservamos duramente pra educar os meninos mais pobres que nós, pra cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais. Esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais. Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta a prova? Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais? É certo que tempos difíceis existem pra aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz. Meu coração tá no escuro. A luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e todos os justos que os precederam. 'Não roubarás!', 'Devolva o lápis do coleguinha', 'Esse apontador não é seu, minha filha'. Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar! Até habeas corpus preventiva, coisa da qual nunca tinha visto falar, sobre o qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará! Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear! Mais honesta ainda eu vou ficar! Só de sacanagem!
    Dirão: 'Deixe de ser boba! Desde Cabral que aqui todo mundo rouba!
    E eu vou dizer: 'Não importa! Será esse o meu carnaval! Vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos.'
    Vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo, a gente consegue ser livre, ético e o escambal.
    Dirão: 'É inútil! Todo mundo aqui é corrupto desde o primeiro homem que veio de Portugal!'
    E eu direi: 'Não admito! Minha esperança é imortal, ouviram? Imortal!'
    Sei que não dá pra mudar o começo, mas, se a gente quiser, vai dar pra mudar o final!..."

    Aqui esta o link do video de Ana Carolina...
    http://www.youtube.com/watch?v=yuJmuTeDDTU
    (não é vírus!)

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