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terça-feira, 22 de junho de 2010

Feira do Rolo em Mogi Guaçu - ESPAÇOS

Por Ludmila Seriani Fontoura
Série: Espaços - (Junho 2010)

A Feira do Rolo é uma feira de artigos antigos que acontece todos os domingos no centro de Mogi Guaçu, município localizado no Estado de São Paulo. Ela se localiza ao final de uma feira comum, que vende verduras, frutas, roupas e bugigangas, como bolsas, controle remoto, dvds, brinquedos , etc.
No entanto, de comum, a Feira do Rolo não tem nada. Nunca vi um lugar com tanta tranquilharia...

Mas de onde vem tudo aquilo?
A resposta está na reciclagem e na doação.
Os comerciantes coletam os artigos do lixo
durante a semana, ganham materiais antigos
de alguns colaboradores, ou retiram algo que
não usam da própria casa.


Perfil
O perfil dos comerciantes resume-se basicamente
em aposentados. São eles em sua maioria.
Mas também tem aqueles que durante a
semana exercem outro ofício. Para vender
os artigos, os comerciantes devem estar
cadastrados na prefeitura do município e pagar pelo
valor imposto. Para 4 metros de banca,
são pagos R$ 18 mensais.


terça-feira, 15 de junho de 2010

Olhando pelo avesso e através da VIRADA CULTURAL DO INTERIOR PAULISTA

Por Ludmila Seriani Fontoura - equipe Hei.PossoFalar?
Vinte e quatro horas – GRÁTIS - de música, dança, circo, teatro, exposição e cultura popular. Um final de semana atípico em algumas cidades do interior, como nos municípios de Mogi Guaçu, Jundiaí, Bauru, Assis, Ribeirão Preto e Sorocaba, por exemplo. Isso porque, nos dias 22 e 23 de maio, 30 cidades do interior e litoral paulista foram palco da Virada Cultural, evento inspirado na festa da capital paulista e que, de acordo com a Secretaria do Estado da Cultura de São Paulo, neste ano atraiu 1,3 milhões de pessoas em todo o Estado. O investimento do governo foi de R$ 6,5 milhões.


Colocada nas ruas pela primeira vez na administração, do então governador do Estado de São Paulo, José Serra, a Virada Cultural Paulista nasceu em 2007, sendo realizada em dez cidades do interior e levando para o gosto popular 381 atrações. Após, em 2008, foram 19 cidades participantes e 476 eventos e, seguindo a crescente ordem dos números, em 2009 a virada aconteceu em 20 cidades com 563 pontos de disseminação cultural.


De acordo com o coordenador da Virada Cultural, André Sturm, a escolha das cidades palco da Virada Cultural se dá, primeiramente, pela localização geográfica do município. “O intuito é ter a virada em todos as regiões do Estado. Mas outros pontos também são analisados, como a população, o interesse do município e a tradição da cidade em promover eventos culturais” – afirma.


Para o próximo ano, ainda não há definição sobre as cidades participantes. Sturm diz ainda ser cedo para falar em aumento no número de cidades que receberão a festa em 2011. Antes, Secretaria do Estado da Cultura de São Paulo ainda realizará uma avaliação sobre a festa deste ano, para então iniciar o planejamento da próxima.


De cabeça na Virada do Interior
Para entender como a virada aconteceu mergulhamos de cabeça num território, digamos, longe... bem longe. Em Mogi Guaçu, uma das 30 cidades anfitriãs do evento.

É a segunda vez que o município recebe a Virada Cultural Paulista e, segundo o secretário de cultura do município Edenilson José Faboci, cerca de 40 mil pessoas participaram do evento. Neste ano, como a programação estava mais “rechonchuda”, se comparada a 2009, além do centro da cidade, outros locais também foram ocupados pelas atrações que incluíram artistas como Arrigo Barnabé, Arnaldo Antunes, Sandália de Prata, Dj Evelyn, a grafiteira Pankill, exposição sobre história em quadrinhos, artes circenses, teatros e os artista da própria cidade, o cantor Pedro Henrique junto à banda Lumiar, a banda marcial dos Ypês e a DivaDrive, que foram indicados pelo município e, posteriormente, contratados pelo governo estadual.

Para Ully Costa, vocalista da Sandália de Prata, banda samba-rock da capital paulista, a Virada Cultural é importante para os artistas, para a música brasileira, para a galera da culinária, para os grafiteiros e principalmente para o público. Para ela, a Virada Cultural é arte pura.

Quanta gente boa que a mídia comum não mostra. Quanta musica de qualidade que fica escondida atrás dos holofotes da grande imprensa. De acordo com Faboci, após a criação da Secretaria de Cultura no município, há dois anos, Mogi Guaçu está trabalhando para descobrir, redescobrir e incentivar os talentos que estão espalhados pelos diversos pontos da cidade. “Para nós a cultura não pode ser vista como algo supérfluo, por isso trabalhamos durante todo o ano, por meio de um calendário de ações, na descentralização da cultura, proporcionando espaço para todos, de maneira a impulsionar novas referências para a população” – comenta.

Além dos artistas, por incentivo da Secretaria do Estado da Cultura de São Paulo e o apoio de órgãos municipais, Mogi Guaçu tratou também de assuntos pertinentes aos cidadãos, disponibilizando pontos de informação sobre a Lei Maria da Penha, educação no transito e previdência privada.

Dois dias de festa, dois dias de mistura cultural. Desde adolescentes de cabelo e cadarços coloridos a tiozões de cabelos compridos e colete nas costas, na virada todo mundo dançou, cantou, sorriu e aproveitou às 24h – GRATIS – de cultura.


E como vai a cultura? Bem, obrigada?

Não. Meia boca, de nada.
Analisando sob a ótica da escola de Frankfurt, que tem como base a Teoria da Indústria Cultural, o que se pode afirmar, com toda certeza, é que a cultura, no que diz respeito a pensamentos, obras de arte, espetáculos, cinema, leitura, etc., infelizmente, tornou-se um produto caro que pode ser consumido por poucos.

Claro, quem é que, em tempos de cachorro magro, consegue pagar R$40 por um convite individual para assistir a uma peça de teatro de qualidade? Ou ainda, R$15, 16, 19 por uma sessão de cinema? Isso é artigo de luxo para a massa, que sobrevive, muitas vezes com salários dignos, porém míseros.

De acordo com Fabiano Ormaneze, jornalista e professor da área de Estética e Cultura da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), a centralização do consumo cultural é um problema que poderia ser evitado se houvesse uma política pública de acesso aos bens culturais, uma valorização das manifestações não elitizadas, a democratização dos meios de comunicação e, claro, a melhoria da educação – salienta. Neste sentido, mesmo passando por ações que visam proporcionar novas referências, como a Virada Cultural Paulista, importante estímulo para os cidadãos darem um passo adiante, a cultura precisa ainda ser democratizada.

Para o jornalista e professor, a Virada Cultural é válida como um incentivo e não como uma medida que resolve o problema da exclusão cultural. “Não adianta proporcionar 01 dia de atividades gratuitas, mas esquecer dos outros 364 dias do ano. Não dá para disponibilizar cultura de maneira limitada” – salienta.

É um jogo de dominó num país que não analisa. Assim, o anormal passa a ser normal. Ora bolas, falar sobre cultura envolve, primeiramente, a discussão sobre a educação do Brasil.

Vale Cultura: progresso?
O projeto de lei 5798/09, que se refere ao Programa de Cultura do Trabalhador e que contempla o Vale Cultura, ainda aguarda para ser apreciado na Câmara dos Deputados, em Brasília.
Isso por que, após ser votado e aprovado em plenário no dia 14 de outubro de 2009, o mesmo seguiu para o Senado Federal, que apresentou emendas à câmara, em 22 de dezembro.

Até o momento, as emendas aguardam para serem votadas. Porém, segundo o sítio Agência Câmara de Notícias (http://www2.camara.gov.br/agencia/noticias/NAO-INFORMADO/4269-GOVERNO-QUER-VOTAR-24-PROJETOS-PRIORITARIOS.html), em março deste ano foi apresentada uma lista com 24 projetos que tem prioridade de votação até as eleições. Entre eles, não se encontra o Programa de Cultura do Trabalhador. De acordo com a central de informações da Câmara dos Deputados, a ordem de prioridade pode ser alterada a qualquer momento.

Mas, será que com a aprovação do Vale-Cultura as pessoas terão mais oportunidade para consumir cultura de qualidade?

Um ponto de atenção, e que merece destaque, é o entendimento que se tem sobre cultura no Brasil. De nada adianta proporcionar ao trabalhador a oportunidade de freqüentar um teatro, um cinema, comprar um livro ou mesmo um disco, se o Brasil continuar apoiando a Indústria Cultural, que tem o poder para direcionar o consumo e a capacidade de direcionar o olhar das pessoas apenas para aquilo que ela mesma colocou na mídia e considera ser cultura.

Se isso acontecer, andaremos em círculo e, novamente, daremos espaço apenas para as manifestações elitizadas: ao artista e não a obra, ao consumo e não ao significado, ao resultado e não a análise. Desta forma, consumiremos somente aquilo que é produzido em série para gerar renda aos grandes detentores da mídia, que visam o lucro a qualquer preço, mas que não se preocupam em disseminar, democratizar e gerar conhecimento.

É preciso incentivar a busca por novas referências, para que as pessoas formem um novo repertório, capaz de analisar e compreender o contexto em que estão inseridas, e não apenas consumam de forma desenfreada. O necessário é entender que a Indústria Cultural estuda o público que quer impactar para então direcionar suas ações. É um mercado inteligente, que pode engolir cada um de nós – com suas frases feitas, com suas noites perfeitas (trecho extraído da música Frases Perfeitas, do compositor e cantor Cazuza).